4 de dezembro de 2024

Obra de Virginia Woolf ganha edição ilustrada


A Editora Maralto apresenta neste mês de dezembro uma edição singular do ensaio Profissões para mulheres, de Virginia Woolf, enriquecida pelas ilustrações da premiada artista Marilda Castanha e com tradução de Adriana Lisboa. Publicado postumamente, o texto lido por Woolf em 1931 durante uma palestra é uma reflexão poderosa e atemporal sobre as barreiras enfrentadas pelas mulheres no mundo profissional e intelectual, bem como a necessidade de desafiar o ideal opressor da feminilidade consagrada no Anjo do Lar, expressão cunhada por Coventry Patmore em seu poema The Angel in the House.


Para ilustrar o texto, Marilda Castanha fez uma profunda imersão na obra e na vida de Virginia Woolf. Suas pesquisas abrangeram desde citações do próprio ensaio – incluindo autoras mencionadas por Woolf – até elementos biográficos e culturais que pudessem ampliar o entendimento visual e simbólico da narrativa. Marilda explorou fotos de uma das casas onde Woolf viveu, seu estilo de vestir e as pessoas com quem convivia, registrando até mesmo seus gostos literários.


“Foi especialmente inspirador descobrir que Woolf amava Alice no País das Maravilhas e que, certa vez, em um baile à fantasia, vestiu-se como a Lebre de Março”, explica Marilda. “Essa descoberta resultou em uma das imagens do livro. A leitura de Orlando – cuja personagem desafia o tempo, vivendo trezentos anos e passando pela experiência de mudar de gênero, também teve um impacto significativo, inclusive para minha decisão de usar imagens de relógios”.


Todas as referências coletadas por Marilda a orientaram na escolha de elementos que compõem as ilustrações, como pedras, xícaras, gaiolas, sapatos, etc., todos cuidadosamente integrados à técnica mista empregada por ela. Utilizando colagens, tinta acrílica, aquarela, gesso, estêncil e lápis, a artista criou uma paleta restrita e simbólica: cinzas, azuis-escuros, preto e sépia, com toques de ocre e vermelho para acentuar elementos específicos.


Entre as representações mais marcantes está a figura surreal de uma mulher com rosto de relógio, segurando um guarda-chuva para proteger um peixe – uma metáfora para a constante necessidade de inventar formas de resistência e sobrevivência. Rostos masculinos vendados em grupos de três, como uma muralha, aparecem como outra maneira de ilustrar a opressão, dominação e sujeição histórica a que as mulheres foram (e infelizmente ainda são) submetidas.


“Traduzir Virginia Woolf é um desafio, porque seu texto é tão sofisticado quanto preciso”, reflete a escritora e tradutora Adriana Lisboa. “Como mulher, é comovente encontrar ali um texto que inclui, que não se vale da autoridade da oradora que foi convidada a dar uma palestra sobre o papel da mulher na sociedade, mas que propõe que as próprias mulheres tenham curiosidade, criatividade e ousadia para fazer a si mesmas essa pergunta. Seria fácil, para a autora, abraçar esse lugar de poder, o que em suma não questionaria nenhuma estrutura, mas o que ela faz é se irmanar às outras mulheres, suas ouvintes e hoje leitoras, desbancando assim do modo mais cabal a hierarquização do mundo proposta e sustentada pela ordem patriarcal”.


Virginia Woolf escreveu sobre o árduo processo de libertar-se do “Anjo do Lar”, ao mesmo tempo que reconhecia como esse ideal vitoriano estava profundamente arraigado na mente das mulheres e na cultura de sua época. Apesar de escrito há quase um século, Profissões para mulheres permanece assustadoramente atual. O ensaio é uma reflexão não apenas sobre as desigualdades enfrentadas pelas mulheres – incluindo questões como misoginia e disparidade salarial –, mas também sobre o poder de quem se posiciona como detentor do saber e impõe sua visão ao outro.


“É triste concluir que, sim, ainda andamos, esbarramos e tropeçamos em ‘anjos do lar’”, explica a ilustradora. “Fomos, somos cercadas por avós, mães e tias, muito abnegadas, que encarnavam o anjo do lar. Mas, ao mesmo tempo, em algum momento de suas vidas, essas mulheres também reagiram, e deram testemunhos de extrema coragem. Acho que as últimas frases do ensaio ‘eu ficaria aqui de bom grado para discutir essas perguntas e respostas, mas não hoje. Meu tempo acabou, e devo parar por aqui’ finalizam de uma forma genial o livro, pois ela afirma que o tempo – dela e de certa forma de cada uma de nós (de pensar, de questionar, de refletir) – uma hora termina. Mas virão outras. Outras mulheres que continuarão essa tarefa de questionar, criticar e enfrentar todos esses fantasmas. Uma forma, também, de afirmar que há sempre esperança!”, finaliza Marilda Castanha.



“No caso de Profissões para mulheres, seria interessante ressaltar ainda que a estratégia retórica de Virginia Woolf é, de certa maneira, abdicar de seu lugar de poder como oradora e entregar a autoridade sobre o assunto em questão a suas ouvintes – aquelas mulheres que darão a resposta final às próprias perguntas. O que ela faz, em última instância, é questionar o lugar da mulher na sociedade moderna”, conclui Adriana Lisboa.


 
Essa edição, com estrutura luxuosa e em capa dura, com texto e ilustrações que se complementam de forma visceral, é mais do que um livro: é um convite à reflexão e ao debate sobre os desafios que as mulheres ainda enfrentam no século XXI. A obra já está disponível nas livrarias parceiras e faz parte do Programa de Formação Leitora Maralto, uma iniciativa voltada para escolas de todo o país.

 
Profissões para mulheres
Autora: Virginia Woolf
Ilustrações: Marilda Castanha
Tradução: Adriana Lisboa
Editora: Maralto Edições
Preço:
Páginas: 92
Vendas: https://loja.maralto.com.br


29 de maio de 2025
Com inscrições abertas até segunda-feira (02/06), o edital Prêmios Cultura Viva é uma oportunidade para fazedores de cultura impulsionarem seus projetos. Oferecida pela Prefeitura de Niterói, a iniciativa vai fomentar Pontos e Pontões de Cultura com R$ 760 mil. Ao todo, serão selecionados 40 projetos. As inscrições são gratuitas e podem ser realizadas pela plataforma do Colab. O edital integra a Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB/MinC) e é conduzido pela Secretaria Municipal das Culturas (SMC). “Os Pontos e Pontões são uma parte essencial da nossa rede de cultura em Niterói. Através dos recursos da Lei Aldir Blanc, lançamos dois editais que somam mais de R$ 3 milhões em investimentos voltados ao fortalecimento da produção cultural na cidade. Para a Prefeitura de Niterói, investir nesses espaços é um passo importante para impulsionar quem luta pela cultura na ponta, junto da população”, reforçou o prefeito de Niterói, Rodrigo Neves. O Edital Prêmios Cultura Viva vai reconhecer e premiar 40 iniciativas culturais de base comunitária desenvolvidas por pessoas jurídicas sem fins lucrativos ou por coletivos culturais informais representados por pessoas físicas. Cada uma das 40 selecionadas receberá R$ 19 mil. O edital também estabelece cotas para garantir a diversidade entre os premiados, com vagas reservadas para pessoas negras, indígenas, com deficiência, mulheres e trans. Também parte das ações integradas à PNAB, a Prefeitura lança o Edital Aldir Blanc de Fomento à Cultura. Serão destinados R$ 2.250.000,00 para apoiar 45 projetos culturais apresentados exclusivamente por pessoas jurídicas, com ou sem fins lucrativos, que estejam estabelecidas em Niterói e tenham finalidade artística e cultural. Ao todo, os dois editais somam R$ 3 milhões de investimento. “Os Pontos e Pontões de cultura da cidade são verdadeiros guardiões das culturas tradicionais e de base comunitária. Preservam a memória, a história e o fazer artístico de Niterói. Este edital dedicado a esses mestres e mestras é uma forma de garantir o direito à cultura àqueles que se dedicam em manter viva nossa herança cultural”, afirmou o secretário das Culturas, Leonardo Giordano. As inscrições são realizadas por meio da plataforma Colab, ferramenta digital que conecta cidadãos e governos com foco em cidadania digital e governança colaborativa. O edital também será disponibilizado em Libras, garantindo acessibilidade nas informações. Para apoiar os proponentes no processo de inscrição, a Secretaria das Culturas promoverá atendimentos presenciais na quinta-feira (29), às 17h, no Espaço EcoCultural, na Região Oceânica, e no sábado (31), das 10h às 14h, na Casa Cultura é um Direito, no Ingá.
27 de maio de 2025
Quando três amigos, muito próximos, e que sabem tudo da vida uns dos outros se juntam para abrir uma discussão que reflita sobre a construção da masculinidade, não tem como o roteiro dar errado! Assim surgiu a ideia de “Por que não nós?”. A peça é um mergulho profundo e ácido no psiquismo do que é ser homem em nossa sociedade, partindo da narrativa de três personagens sarcásticos e hilários que debatem um conceito muito atual: a masculinidade tóxica e suas consequências. No palco, Samuel, Amaury e Felipe convidam o público a olhar para essa questão que se faz necessária, rindo e emocionando, tocando em pontos como as perguntas: existe diferença de gênero? Ou existe relacionamentos desigualitários? E ainda o autocuidado.  “Quisemos entender como somos atingidos pela contenção do que sentimos, mesmo rindo das ansiedades e das angústias que essa contenção provoca”, explica Felipe Velozo. A masculinidade tóxica é percebida como um conjunto de ideias e mecanismos voltados para que os homens se encaixem em padrões que mantenham um equilíbrio social baseado na violência. Até que essa violência se volta contra os próprios homens em uma espiral de manifestações que incluem a exacerbação da virilidade, o machismo, a violência contra a mulher, homofobia e transfobia. Apesar disso, a história promete divertir e provocar a plateia, descortinando uma série de assuntos que passam pela saúde emocional, estigmas e preconceitos. “A história fala de amizade, de educação emocional, sobre como os homens não são criados para falar, para discutir as emoções. É um espetáculo sobre isso. Sobre a dificuldade que o homem tem em se relacionar emocionalmente”, destaca Samuel de Assis. O universo impresso neste espetáculo é foco constante de campanhas de saúde mental, palestras, livros, teses, estudos culturais e sociais, reportagens, filmes e, agora, será tema de uma peça. “O teatro pode, e muito, contribuir para os debates que brotam das questões de gênero, no mundo em que vivemos, que estão fervilhando e reclamando outros modos de discussão”, diz Amaury Lorenzo. SERVIÇO: “Por que não nós? Com Samuel de Assis, Amaury Lorenzo e Felipe Velozo Dias 07 e 08 de junho, sábado e domingo, às 19h Teatro da UFF: Rua Miguel de Frias, 9, Icaraí, Niterói - RJ Classificação Indicativa: 10 anos Duração: 100 minutos Ingressos: R$ 90,00 (inteira) e R$ 45,00 (meia) Vendas: http://www.guicheweb.com.br/centrodeartesuff