Galeria Evandro Carneiro apresenta Exposição Lugares na pintura de Emeric Marcier
A Galeria Evandro Carneiro Arte tem o prazer de anunciar a Exposição Lugares na pintura de Emeric Marcier que estará aberta ao público de 11 a 29 de março de 2025. A mostra individual traz 22 obras distribuídas em telas a óleo e aquarelas do artista. Considerado um dos mais importantes pintores modernos no Brasil, o romeno, radicado no Brasil por quase meio século e naturalizado brasileiro, dedicou grande parte de sua vida e obra à produção de pinturas de arte sacra, retratos e paisagens mineiras e aquarelas de paisagens europeias. A curadoria da exposição é de Evandro Carneiro.
Sobre o artista:
Emeric Marcier (Cluj 1916 - Paris 1990), um dos mais importantes pintores modernos do Brasil, nasceu em 21 de novembro de 1916, na Romênia. Judeu de origem, converteu-se ao catolicismo já no Brasil, por influência de seus amigos Murilo Mendes, Jorge de Lima e Lucio Cardoso, que foi seu padrinho de batismo. De personalidade intensa, na primeira página de sua autobiografia, Deportado para a Vida (escrita entre 1988-1990 e publicada em 2004 pela Francisco Alves) se declara humanista e algo anarquista. Sua história confirma que a liberdade e a vocação artística sempre o guiaram.
Aos 20 anos deixou Bucareste para estudar em Milão – na Academia de Belas Artes de Brera, onde após realizar a graduação, defendeu sua tese de final de curso sobre Picasso, em plena ascensão fascista. Com a deterioração das condições políticas na Itália, foi para a França, em 1939, onde montou um ateliê na Cité Falguière e cursou uma cadeira na Escola Nacional Superior de Belas Artes de Paris.
Nesta cidade, conheceu e conviveu com muitos artistas, alguns dos quais continuaram amigos pela vida inteira, tais como os conterrâneos e surrealistas, Victor Brauner, Jacques Herold, Arpad Szenes, bem como a mulher deste, Maria Helena Vieira da Silva, portuguesa de origem. Quando a França entrou na guerra, foi para Lisboa, hospedando-se na casa de Szenes e Vieira da Silva, com a intenção de seguir para os EUA, destino de muitos judeus naquele momento. Em Lisboa trabalhou no ateliê do também surrealista António Da Costa. Relacionou-se com os escritores portugueses da época e ilustrou alguns números da Revista Presença, importante veículo de expressão dos intelectuais naquele momento. Com a negativa do visto para os Estados Unidos, resolveu partir para o Brasil. Em sua chegada ao Rio, em 1940, trouxe cartas de apresentação para José Lins do Rego, Mario de Andrade e Portinari. Logo nos primeiros momentos conheceu também Jorge de Lima, e Lucio Cardoso que juntamente com José Lins do Rego, tornaram-se seus grandes amigos e o introduziram na vida intelectual carioca.
No mesmo ano em que aqui chegou, teve a chance de realizar a sua primeira exposição individual, no tradicional Salão do Palace Hotel, sede da Associação de Artistas Brasileiros. Guignard desistira de apresentar-se por ter tido uma de suas telas censuradas, retratando um fuzileiro naval negro. Assim, a sorte abriu-se para Marcier. A crítica foi muito favorável ao seu talento. Ainda um jovem artista surrealista europeu, mas já com prenúncios paisagísticos, como relata seu filho Matias (Depoimento oral à autora, 2018): “em uma carta dirigida ao casal Arpad Szenes e Maria Helena Vieira da Silva (apelidada de “Bicho” por papai), na maneira como ele relata a viagem ao Brasil transparece o futuro paisagista...”
Em 1942, o artista foi contratado pela Revista O Cruzeiro para fazer uma viagem às cidades históricas mineiras e compor uma reportagem ilustrada com suas telas. Uma edição histórica, com textos de Drummond, Aires da Matta Machado e outros. Desde então, retratou o Brasil, a sua gente e seus costumes. As paisagens de Minas, Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro foram diversas vezes pintadas por ele e a expressão de nosso barroco o marcou desde a primeira viagem a Minas. Ainda segundo Matias, “Marcier era o típico ‘pintor viajante’”, tendo representado muitos lugares da Europa, com foco especial para Itália, França e Portugal. Trazia sempre com ele sua caixa de aquarelas e seus blocos de papel especial para ir retratando os lugares e as pessoas que o marcavam pelo mundo afora. Retornou várias vezes aos mesmos lugares, para repintá-los em diversas épocas, como por exemplo a Toscana e a Normandia, que são muito recorrentes em sua obra, como demonstram as aquarelas ora expostas.
Em 1948, o artista fixou residência no sítio de Barbacena, onde criou, com Julita, os seus sete filhos. Tempos felizes com a família na casa que construiu para acalmar as dores do exílio e dedicar-se à sua arte. No ateliê rural de grandes proporções, investiu com todo o empenho em telas de grandes dimensões, com temas sacros, à luz do sofrimento da humanidade e realizou as suas espetaculares “Paixões de Cristo” e “Via Sacra”.
Experimentou de forma ainda mais efetiva os seus estudos sobre a luz na obra de arte: “Tinha aplicado uma técnica onde procurava separar o branco do resto, tratando-o simplesmente como luz. Preparava tudo com um branco que eu mesmo triturava, conforme uma fórmula do tempo de Rembrandt. Perdi mais de 15 anos com essas pesquisas, onde o impulso criador sempre ficava entravado por uma ideia fixa. Pintar escuro, mas luminoso. (...)” (Marcier, 2004, p. 134). Uma luz que ele buscava incansavelmente e sempre o acompanhou, tal qual um típico renascentista. Segundo Affonso Romano de Sant’Anna: “Na verdade, nessas telas aí há um ponto de luz, que só os mestres sabem produzir.” (SANT´ANNA, 1983, p.46).
Ainda nas palavras de Affonso Romano, a Paixão tão pintada por Marcier é a sua e não somente a de Cristo. “Pois ele também está no tempo. Estar no tempo ou no templo é estar na axis da história, no coração do ser. No tempo estamos crucificados. No tempo estamos esquartejados pela paixão” (SANT´ANNA, 1983, p. 29-30).
Como humanista declarado, os horrores da Segunda Guerra o afligiam e a confluência entre a história sagrada e a profana em sua pintura revelam “as mágoas de um exílio" (Marcier, 2004, p.97) e os “traços sumários exprimindo a dor” (Idem, p.105). Há algo demasiadamente humano que se expressa em meio às cenas bíblicas pintadas, como os aviões da Segunda Guerra Mundial na obra Torre de Babel (1947) da Capela de Mauá (SP) e os capacetes modernos - lembrando os de soldados fascistas - dos guardas que prendem Jesus Cristo. Ou, ainda, quando ele mesmo surge retratado em seu Ecce Homo (1982/1983).
Ao longo dos anos, Marcier fez dezenas de exposições individuais no Brasil e no mundo, mas destacamos aqui a mostra inaugural da Galeria Relevo, em 1961, com a temática dos 25 anos de seus desenhos.
Famoso por suas pinturas sacras (Marcier é considerado o mais importante pintor sacro do Brasil), o artista foi um grande paisagista. Além de pintar em suportes de grandes dimensões, ele também aquarelava as paisagens por onde passava, em formatos menores. A exposição que ora se realiza pela Galeria Evandro Carneiro Arte selecionou um conjunto dessas aquarelas, além de alguns óleos importantes de paisagens típicas do pintor.
Serviço: Exposição Lugares na pintura de Emeric Marcier
Galeria Evandro Carneiro Arte: Rua Marquês de São Vicente, 124 (Shopping Gávea Trade Center). Salas 108 e 109.
De 11 a 29 de março de 2025.
Visitação: de segunda a sábado, das 10h às 19h.
Telefone: (21) 2227.6894
Estacionamento coberto no local.

